Aconjuntiva é uma membrana (membrana mucosa) muito fina e transparente que reveste e protege a parte branca dos olhos (denominada esclerótica) e a face interna das pálpebras. As suas principais funções são: proteção e lubrificação das restantes estruturas oculares externas contra agentes agressores, e defesa imunológica. Os agentes agressores mais comuns pertencem a um dos três grupos: alergénios, microrganismos e tóxicos.
A conjuntivite alérgica é uma inflamação da conjuntiva desencadeada por alergénios. Os sintomas da conjuntivite alérgica mais exuberantes são: vermelhidão, prurido (comichão) e lacrimejo. Estes sintomas são muito incomodativos e, se forem intensos, condicionarão bastante as actividades de vida diária e poderão interferir com o sono. Assim, é muito importante um correcto diagnóstico e um tratamento adequado, não só para melhorar os sintomas, mas também para evitar agravamento e complicações.
O Que é a Conjuntivite Alérgica?
Estima-se que pelo menos 20% da população sofra de conjuntivite alérgica. A conjuntivite alérgica poucas vezes surge isolada. Normalmente surge associada a outras condições alérgicas, em especial à rinite alérgica – 70% a 80% das pessoas que sofrem de conjuntivite alérgica têm rinite alérgica, pois as mucosas dos olhos e do nariz respondem de modo idêntico a alergénios (substâncias com características que poderão desencadear reacções alérgicas) transportados pelo ar, apresentando ambas um modo de reagir idêntico.
Assim, poderão estar associados sintomas como: prurido (comichão) nasal, corrimento, congestão nasais e espirros em salvas.


A conjuntiva ocular e a mucosa nasal possuem células imunológicas específicas para responder a substâncias identificadas como estranhas ou irritativas, condicionando uma forte resposta inflamatória, com produção de secreções (lágrima ou corrimento nasal) na tentativa de libertar, de eliminar a substância indesejada.
Tal como nas restantes alergias, os factores desencadeantes da conjuntivite alérgica são inócuos para a maioria das pessoas. No entanto, quando há hiperestimulação do sistema imunológico por elevada entrada no organismo de substâncias disruptivas para este sistema (alguns tipos de alimentos e aditivos alimentares, tóxicos aéreos, entre outros) ele reage de modo excessivo condicionando quadros inflamatórios intensos.
Os principais desencadeantes de quadros de conjuntivite alérgica são: pólenes; pó de ácaros; pêlos de animais; mofos e bolores; vapores de detergentes, aromatizantes e lixívia; gases e poeiras de poluição atmosférica; entre outros.


A conjuntivite poderá também ser condicionada por agentes infeciosos – conjuntivite infeciosa – e por agentes tóxicos (contexto laboral, acidentes com químicos) – conjuntivite tóxica. Estes dois tipos de conjuntivite poderão ser mais graves se não forem diagnosticados com brevidade e tratados eficazmente.
Sintomas da Conjuntivite Alérgica
Os sintomas da conjuntivite alérgica, que podem variar em intensidade, são: olhos vermelhos, ardor ocular com prurido (comichão) intenso, lacrimejo abundante, edema (inchaço) das pálpebras, edema da conjuntiva, sensação de “areia” nos olhos, e “espessamento” (hipertrofia papilar ligeira) da conjuntiva palpebral.
Os sintomas normalmente atingem igualmente ambos os olhos, e poderão não estar todos presentes em simultâneo. Estes sintomas poderão perturbar a visão pela incomodidade, mas, em geral, não turvam a visão, excepto se se tornarem muito intensos. Poderá haver fotofobia (intolerância à luz), em casos mais exuberantes.
A conjuntivite alérgica, tal como a rinite alérgica, poderá ser sazonal, relacionada com a polinização, portanto, surge na Primavera e início do Verão, e Outono; ou noutras estações, dependendo da orografia e flora locais. Se se mantém todo o ano ou por períodos mais longos, denomina-se persistente ou peranual, pois permanece.



Diagnóstico da Conjuntivite Alérgica
Apesar da conjuntivite alérgica poder ser muito perturbadora da vida e do bem-estar, até porque pode decorrer por períodos prolongados, a conjuntivite tóxica requer tratamento imediato e seguro, e a conjuntivite infecciosa requer diagnóstico atempado, correcto e tratamento eficaz e específico.
O diagnóstico clínico deverá ser realizado por um médico, no entanto, poderá requerer observação por médico especialista em oftalmologia, ou alergologista para garantir um diagnóstico mais seguro e específico.
O diagnóstico de conjuntivite alérgica baseia-se na observação e, essencialmente, no historial clínico e na presença de outras perturbações alérgicas concomitantes, como a rinite e a asma alérgica. Poderá ser necessária a realização análises ao sangue, para identificação de anticorpos específicos, e de testes cutâneos por picada com alergénios (“testes alérgicos”), noscasos persistentes ou de difícil controlo, para identificar os eventuais alergénios responsáveis.
A conjuntivite infeciosa é condicionada por vírus (na maioria dos casos) ou bactérias. Nestes casos, a conjuntivite pode afectar apenas um dos olhos, mas se não for tratada, poderá contagiar o outro. Apesar de alguns dos sintomas de conjuntivite alérgica poderem ser comuns aos da conjuntivite infeciosa, tais como olhos vermelhos, lacrimejo, sensação de “areias” nos olhos, existem diferenças entre ambas. Na conjuntivite alérgica há um historial alérgico e, normalmente, a comichão é muito mais intensa, assim como o lacrimejo, e edema das pálpebras. Na conjuntivite infecciosa, as secreções oculares são purulentas (amareladas ou esverdeadas) e pegajosas, e a comichão é menor ou inexistente.



A conjuntivite tóxica, causada pelo contacto directo de um tóxico (salpico ou derramamento acidental de um químico, vapores industriais, cosméticos alterados, por exemplo), requer intervenção especializada, segura e célere. Estas situações poderão tornar-se graves se não forem tratadas. No entanto, na maioria dos casos, decorre por intolerância ao uso prolongado de alguns dos componentes de medicamentos usados para tratamento de condições oculares de longa duração, tais como colírios ou antibióticos tópicos e anestésicos tópicos (tópico – de aplicação ocular directa).
As reacções alérgicas oculares podem ser de múltiplas origens e os mecanismos de reactividade em cada pessoa podem ser diversos e individuais. Assim, nem todas as alergias oculares correspondem a conjuntivite alérgica, apesar de poderem ter alguns sintomas comuns.
Quanto Tempo Dura a Conjuntivite Alérgica?
Quanto tempo dura a conjuntivite alérgica?
Não existe uma única resposta. A sua duração varia em função do tipo de alergénios e da permanência dos mesmos no ambiente onde se encontra a pessoa afectada, assim como a presença de outras situações alérgicas concomitantes tais como a asma e a rinite alérgicas. Se se tratar de conjuntivite alérgicasazonal, poderá durar toda a época de polinização, se não forem tomadas medidas preventivas e tratamento adequado. Assim, poderá durar desde apenas alguns dias até cerca de duas semanas, ou persistir por semanas ou meses, nas situações crónicas, em que os alergénios permanecem no ambiente (nomeadamente: pó de ácaros, pêlos de animais e exposição laboral), podendo haver oscilação com períodos de agravamento e de alívio dos sintomas.
Deverá ser consultado um médico especialista, excepto no caso de sintomas ligeiros e de curta duração, e sem secreções purulentas; e deverá haver avaliação médica especializada e rápida, em caso de sintomas de alarme: dor ocular, fotofobia (intolerância à luz), visão diminuída ou turva, vermelhidão muito acentuada, uso de lentes de contacto.
Tratamentos para Conjuntivite Alérgica
O tratamento deve ser conduzido em função da gravidade dos sintomas, com o objectivo de parar ou atenuar a cascata inflamatória associada à resposta alérgica, com consequente alívio dos sintomas e prevenção de complicações associadas à inflamação crónica. O tratamento da conjuntivite alérgica inclui quatro domínios de intervenção: estratégias preventivas (para reduzir a exposição ao/s alergénio/s), medidas não farmacológicas, tratamento farmacológico e imunoterapia.
As medidas não farmacológicas incluem:
- utilização de óculos de sol para minimizar o contacto com alergénios aéreos e melhorar a fotofobia;
- aplicação de compressas frias pode também ser útil para o alívio do prurido, diminuição da vermelhidão e do edema das pálpebras;
- utilização de lubrificantes oculares (lágrimas artificiais ou soro fisiológico) pode reforçar a função de barreira da superfície ocular e a boa higiene palpebral, removendo alergénios e células inflamatórias.
No geral, estas medidas não são suficientes para resolver os sintomas, mas podem contribuir para a diminuição dos mesmos.
Medidas farmacológicas:
Nas medidas farmacológicas usam-se medicamentos de aplicação directa nos olhos (uso tópico), como colírios (gotas) ou pomadas. Esta é a abordagem preferida devido à sua boa eficácia e pelos reduzidos efeitos sistémicos (com acção em todo o corpo). No tratamento da conjuntivite alérgica associada a rinite ou asma alérgicas, poderá ser recomendável a toma de medicamentos de acção sistémica por via oral.
As principais categorias de fármacos utilizados são:
- os que diminuem a cascata de reacção alérgica (anti-histamínicos e estabilizadores de mastócitos),
- os que diminuem a vermelhidão e edema (vasoconstritores),
- os que contrariam os sintomas inflamatório (anti-inflamatórios não esteroides e corticosteroides), mas que devem ser de uso muito criterioso.
A imunoterapia com alergénios (por picadas na pele ou aplicação sublingual) continua a ser a única opção terapêutica capaz de modificar a história natural da doença alérgica, mas requer critérios clínicos específicos. É recomendada quando persistem sintomas moderados a graves que interfiram com a qualidade de vida do doente, apesar do tratamento optimizado em curso.



Prevenção da Conjuntivite Alérgica
Devem ser explicadas ao paciente as medidas de evicção alergénica (evitação, minimização e afastamento) dirigida aos alergénios previamente identificados no estudo diagnóstico. Estas medidas são transversais a outras patologias alérgicas como a rinite alérgica.
Estas incluem: programação de saídas durante a época de polinização; uso de óculos de sol; medidas de higienização da casa e do ar interior, e o afastamento dos animais, nos casos de alergia ao pó de ácaros e ao pêlo de animais;
Em contexto laboral: afastamento ou medidas de protecção contra os alergénios; e ainda, sempre que possível, a utilização de equipamento certificado de purificação de ar (HEPA) para remoção da totalidade de partículas alergénicas em suspensão no ar interior. Esta última medida pode contribuir para reduzir drasticamente os sintomas, uma vez que a maioria do tempo de permanência diário da maioria das pessoas se verifica no interior (refeições, dormir, lazer, e trabalho a partir de casa).
Conclusão
Existe uma multiplicidade e complexidade de outras alergias oculares, para além da conjuntivite alérgica, que ultrapassam o âmbito deste artigo, algumas das quais com potencial gravidade se não forem correctamente diagnosticadas e tratadas, pelo que se aconselha uma avaliação por médico oftalmologista no caso de sintomas persistentes. É de extrema importância a avaliação médica em casos de alergias oculares não sazonais, e das sazonais com agravamento significativo, pois há quadros clínicos que podem evoluir rapidamente para situações muito graves (vide acima “sintomas de alarme”) que requerem intervenção médica em tempo útil.
Para a prevenção dos sintomas e na saúde ocular a longo prazo, são úteis todas as medidas que reduzam o contacto com os alergénios, que maioritariamente estão no interior das casas: mantendo-as lavadas e higienizadas (lavagem frequente da roupa de cama, cortinados, almofadas); diminuindo ou eliminando as superfícies que acumule pó e alergénios (tapetes, carpetes, sofás revestidos a tecido); anulando ou diminuindo o contacto com animais, em especial no quarto; e ainda, quando possível, purificar o ar interior com equipamento HEPA.
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